Já vão pra lá de quatro anos que não escrevo um texto para a Métrica do Grito. E não faltou assunto pra escrever por aqui. Mas, em minha pesquisa de doutorado, deixei o rock de lado pra poder aprofundar-me na literatura e nos textos de Adorno e de Walter Benjamin - minhas outras paixões, anteriores ao rock, aliás. Dediquei-me integralmente, sem medo, porque sabia que, ao final, a Métrica do Grito estaria exatamente aqui onde está. Pois bem: doutorado entregue, retomemos as atividades.
Nesse tempo todo, tive a chance de circular bastante. Tive tempo e sofri mudanças de ares suficientes pra confirmar o que suspeitava desde o distante 2005, quando comecei o mestrado a respeito de Faroeste Caboclo, da Legião Urbana: São Paulo é cidade de passagem, de trânsito - em dialética dos dois sentidos que essa palavra pode ter, tanto o de "tráfego interrompido", quanto o de "circulação" -, cuja vocação ancestral, sempre retomada e abandonada, é receber artistas de fora e dar-lhes visibilidade, permitir-lhes conhecer outros tantos artistas, daqui e de outros tantos lás. Mas enquanto outras cidades têm diversas usinas populares de cultura que lhes permeiam e oxigenam a produção cultural, São Paulo vem segregando cada vez mais as periferias - onde de fato se cria a matéria-prima original da cultura, creio eu.
Tenho a impressão de que foram o Criolo do Nó na Orelha e o Emicida do Pra quem já mordeu... os aglutinadores da cena musical paulistana nos últimos anos. Na Nova Canção Brasileira, a multiplicidade de gêneros é questão de gosto, não de segregação - em sentido rigorosamente contrário ao do que tem ocorrido, em termos sociais, em São Paulo, de forma cada vez mais flagrante. Recebemos aqui uma infinidade de compositores, agitadores culturais e políticos vindos de todas as partes do país - é, portanto, natural que o rock resvale no tecnobrega e que o rap se amaneire de samba, de rock, de MPB.
São Paulo é trânsito estático e asfixiante nas ruas empestadas de brutalidade nas mais diversas formas, por meio das quais nossas classes dominantes, das mais conservadoras, resistem ao Outro Mundo Possível que se apresenta na Nova Canção Brasileira. É essa a São Paulo que não tem amor: a das avenidas remoradas de carros, a dos corpos dos ciclistas esquartejados também na alma, a da Polícia Militar interrompendo o fluxo dos manifestantes. Esta são paulo em minúsculas é toda reprodução e repetição de modelos arcaicos e de discursos consagrados - em que os habitantes da cidade não são sujeitos da própria vida e da própria história. Esta são paulo é a cidade que não pára, de mercadorias e melancolias cuja vida foi tomada aos homens.
Essa são paulo estática é, via de regra, objeto das canções de uma outra - a São Paulo das vozes da periferia, que avisam que há outras formas de convívio; a das vozes de fora de São Paulo, que fertilizam de outros ritmos o digitar estalado dos teclados dos prédios de escritório. São Paulo é toda circulação e vitalidade, sua vocação original, nas composições de gente que, mesmo morando no centro expandido, experimenta ainda outra São Paulo, sempre para além dos preços exorbitantes dos roteiros aplayboyzados Vejinha: esta São Paulo maiúscula, da radicalidade do questionamento, em multiplicidade de vozes e vias, em diálogos por construir no presente.
Nesse tempo todo, tive a chance de circular bastante. Tive tempo e sofri mudanças de ares suficientes pra confirmar o que suspeitava desde o distante 2005, quando comecei o mestrado a respeito de Faroeste Caboclo, da Legião Urbana: São Paulo é cidade de passagem, de trânsito - em dialética dos dois sentidos que essa palavra pode ter, tanto o de "tráfego interrompido", quanto o de "circulação" -, cuja vocação ancestral, sempre retomada e abandonada, é receber artistas de fora e dar-lhes visibilidade, permitir-lhes conhecer outros tantos artistas, daqui e de outros tantos lás. Mas enquanto outras cidades têm diversas usinas populares de cultura que lhes permeiam e oxigenam a produção cultural, São Paulo vem segregando cada vez mais as periferias - onde de fato se cria a matéria-prima original da cultura, creio eu.
Tenho a impressão de que foram o Criolo do Nó na Orelha e o Emicida do Pra quem já mordeu... os aglutinadores da cena musical paulistana nos últimos anos. Na Nova Canção Brasileira, a multiplicidade de gêneros é questão de gosto, não de segregação - em sentido rigorosamente contrário ao do que tem ocorrido, em termos sociais, em São Paulo, de forma cada vez mais flagrante. Recebemos aqui uma infinidade de compositores, agitadores culturais e políticos vindos de todas as partes do país - é, portanto, natural que o rock resvale no tecnobrega e que o rap se amaneire de samba, de rock, de MPB.
São Paulo é trânsito estático e asfixiante nas ruas empestadas de brutalidade nas mais diversas formas, por meio das quais nossas classes dominantes, das mais conservadoras, resistem ao Outro Mundo Possível que se apresenta na Nova Canção Brasileira. É essa a São Paulo que não tem amor: a das avenidas remoradas de carros, a dos corpos dos ciclistas esquartejados também na alma, a da Polícia Militar interrompendo o fluxo dos manifestantes. Esta são paulo em minúsculas é toda reprodução e repetição de modelos arcaicos e de discursos consagrados - em que os habitantes da cidade não são sujeitos da própria vida e da própria história. Esta são paulo é a cidade que não pára, de mercadorias e melancolias cuja vida foi tomada aos homens.
Essa são paulo estática é, via de regra, objeto das canções de uma outra - a São Paulo das vozes da periferia, que avisam que há outras formas de convívio; a das vozes de fora de São Paulo, que fertilizam de outros ritmos o digitar estalado dos teclados dos prédios de escritório. São Paulo é toda circulação e vitalidade, sua vocação original, nas composições de gente que, mesmo morando no centro expandido, experimenta ainda outra São Paulo, sempre para além dos preços exorbitantes dos roteiros aplayboyzados Vejinha: esta São Paulo maiúscula, da radicalidade do questionamento, em multiplicidade de vozes e vias, em diálogos por construir no presente.
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